Revista Imagem | 05/08/2020 12:01| Por José Antonio Sant'Ana*
Os vilhenenses começaram a conviver com os efeitos do coronavírus no dia 23 de março. Foi quando o comércio não essencial foi fechado por 15 dias, para evitar a propagação do vírus. Um dia antes do encerramento desse prazo, no dia 5 de abril, foi identificado o primeiro caso de covid-19 no município. Hoje, exatos 4 meses após o primeiro diagnóstico, Vilhena contabiliza 23 óbitos por covid-19 e 1.674 casos confirmados.
Vilhena é o quarto município em número de casos confirmados em Rondônia. Mas poderia estar em uma posição mais confortável e menos preocupante, se não fosse pelo fato dos vilhenenses terem se iludido com a falsa sensação de segurança, provoca pelos, até então, baixos números de contaminação e de mortes.
De fato, Vilhena registrava números diários de contaminação bem abaixo da média nacional. Nos primeiros 30 dias (5/4 a 4/5) a partir do primeiro caso identificado, Vilhena registrou apenas 6 casos de coronavírus. Em 60 dias (5/4 a 4/6), o município registrava 84 casos. E em 90 dias de pandemia (5/4 a 4/7) Vilhena acumulava 620 casos. Foi a partir daí, no mês de julho, que as coisas começaram a sair do controle.
Em julho, o vilhenense definitivamente havia baixado a guarda, motivado quem sabe pela convivência “pacífica” com o vírus – afinal já estávamos a mais de 3 meses convivendo com poucos casos diários, e isso motivou muita descrença em relação ao perigo eminente da pandemia. Talvez, a displicência estivesse ligada também a questão emocional. O povo já estava cansado de tanto ouvir falar sobre o coronavírus: não pode isso, não pode aquilo; tem que fazer isso, tem que fazer aquilo.
Então, já que o vírus não parecia estar tão perto assim, aos poucos as pessoas foram se descuidando. Mesmo proibidas, aglomerações eram vistas em vias públicas, parques e até no comércio. Para ajudar, em julho bares e lanchonetes voltaram a atender clientes presencialmente. Nas chácaras, balneários e principalmente nas casas, festas particulares com mais de 5 pessoas aconteciam e ainda acontecem mesmo sendo proibidas.
Resultado: aquela falsa sensação de segurança deu lugar à preocupação, quase um desespero. Os até então poucos casos diários deram lugar a uma avalanche de novos casos, chegando ao pico de 106 em um único dia, registrado na segunda-feira (3). O que se viu então foi Vilhena registrar 1.054 casos nos últimos 30 dias. Esse número corresponde a quase 62% de todos os casos registrados em Vilhena durante todos os 120 dias de pandemia. É um aumento absurdo em tão pouco espaço de tempo.
A falsa sensação de segurança mudou; o número baixo de casos mudou; a realidade da cidade mudou; a única coisa que continua igual é a taxa de ocupação de leitos na UTI da Central de Atendimento à Covid-19. Apesar do aumento de casos, a taxa de ocupação continua se limitando a 70% - se chegar a 80% força o fechamento do comércio não essencial de Vilhena. Se ficar baixa faz com que medidas restritivas de combate a disseminação do coronavírus sejam afrouxadas, como aconteceu recentemente no caso de bares e lanchonetes.
E para a taxa de ocupação dos leitos mudar de 70 para 80%, não são necessárias muitas internações, basta uma única, já que estamos falando de 10 leitos de UTI apenas.
Quem me vê falando assim, até pode pensar que eu torço para a taxa extrapolar o limite, para que o comércio feche. Mas, não. A contrário de muitos eu não acho que a culpa é só dos políticos que não estão sabendo administrar a crise. Como também não será apenas dos cidadãos que não estão sabendo se comportar na crise. Eu sempre me coloco como parte da situação. Assim, eu penso que políticos, pessoas comuns, eu, você, todos nós temos nossa parcela de contribuição na vida em comunidade, seja positiva ou negativa. Neste caso, se o hospital não tiver mais leito, se o comércio fechar, se os empregos sumirem, não será culpa apenas dos políticos, como também não será apenas culpa da população. Por isso vale pensar: onde errei? Onde errando? O que estou fazendo? O que estão fazendo?
Como todos, eu torço para que tudo isso passe logo para que possamos voltar a normalidade. Mas enquanto isso não é possível, é preciso agirmos com consciência e respeito ao próximo, em todos os sentidos. Pois a forma como agimos defini as consequências que colhemos. E nosso caso da pandemia, a minha, a sua, a nossa irresponsabilidade pode estar ajudando a matar alguém. E pode ser alguém que esteja perto de você. Pense nisso.
Comentarios